Um Novo Saber

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Por que continuamos entre os piores?


Mais uma vez conseguimos nos classificar como um dos países que apresenta um dos piores resultados no ensino. Essa é a conclusão do exame internacional de Avaliação de Alunos (PISA), divulgada no último dia 5. Em uma relação de 65 economias mundiais avaliadas, ficamos no 53° lugar em qualidade da educação. Metade de nossos alunos possui apenas o grau mínimo em habilidade de leitura - os estudantes brasileiros pouco entendem do que lêem. Não conseguem ir além dos problemas básicos em matemática, além de só entenderem o óbvio em ciências! Quase a metade dos brasileiros avaliados alcançou o nível 1, e apenas 1,3% atingiu os níveis 5 e 6 em leitura. Em Matemática (ponto mais fraco) 69% chegaram ao nível 1 e somente 0,8% atingiu os níveis 5 e 6. Em Ciências 54% atingiram o nível 1 e apenas 0,6% atingiu os níveis 5 e 6! A evidência lógica é de que estamos reprovados; somos incompetentes e de que não sabemos ensinar!

 Essa avaliação submetida aos estudantes de 15 anos completos é realizada em cada 3 anos pela OCDE - Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico em países membros da organização e alguns países convidados, tais como: Brasil, México, Argentina e Chile. O objetivo é ajudar os países a verificarem como seus sistemas educacionais estão em comparação global nos quesitos: qualidade, equidade e eficiência. Até que ponto os alunos próximos do término da educação obrigatória adquiriram conhecimentos e habilidades essenciais para a participação efetiva na sociedade. Isto é, verificar se esses jovens estão mesmo preparados para enfrentar os desafios do futuro. Se estão capacitados para analisar, raciocinar e comunicar suas idéias efetivamente. Se têm capacidade para continuar aprendendo pela vida toda.

Apesar desses índices medíocres, que revelam de uma vez por todas, o descaso com que a educação vem sendo tratada há décadas pelos nossos políticos (Educação é questão política), em nosso país, o resultado pífio foi comemorado. Comemorou-se o absurdo de ter conseguido alcançar a média geral de 401 pontos e subido 33 pontos da última avaliação. No entanto, os resultados vergonhosos para todo povo brasileiro, para todos nós educadores, demonstram que, comparados os resultados alcançados pelos países da América Latina, só conseguimos superar a Colômbia e a Argentina. Estamos, contudo, atrás do Chile, Uruguai e México e muito (muito) longe dos primeiros colocados: Xangai/China; Coréia do Sul; Finlândia; Hong Kong e Singapura, cujas médias estão em torno de 496 pontos
Mas por que eles conseguem e nós não?! Simples! Todos os países que ocupam os primeiros lugares colocaram a educação como prioridade nacional. Entendem que para ter qualidade na educação é fundamental, primeiro, dar uma atenção especial aos professores. melhores salários a professores dão mais resultados que turmas menores. Nenhum país de alto desempenho paga menos aos professores em comparação com a média de salários de outros profissionais com diploma de ensino superior. Na Coréia do Sul os alunos tiveram a sorte de estudar na melhor escola do país que tem o melhor ensino básico do planeta. Ali, todos os professores têm mestrado, são atualizados a cada dois anos e não permitem que o aluno passe um dia sequer sem entender a lição. Ganham o equivalente a R$ 10.500,00 por mês. Têm como fundamento da prática educativa, o entendimento de que se o aluno não aprende, o professor é que é reprovado.
Na Finlândia creditam o êxito na Educação à sólida formação docente. Os professores têm valorização e prestígio social. Todos têm cinco anos de formação e a maioria tem mais um ano de mestrado. Recebem o equivalente a R$ 8.300,00 e têm 13 semanas de férias ao ano. O consenso é: A qualidade de um sistema educacional não pode ser maior que a qualidade de seus professores.
Por aqui, estamos longe disso. Os professores recebem em média, R$ 1.500,00; ou seja,  menos 40% do salário de outros profissionais com o mesmo tempo de formação. As salas de aula são abarrotadas de estudantes e sofrem, ainda, o desprestígio, a desvalorização e o desrespeito da sociedade. Como atrair para esse mercado os jovens talentos? Quem quer ser professor hoje em dia?
Durante todo este ano tenho deixado registrado neste espaço o que penso sobre o tema educação. Sem o propósito de criticar pessoas, tenho feito algumas análises pessoais sobre este assunto, que faz parte do meu cotidiano profissional – sou professora e formadora de professores. Acredito que tenho o compromisso e a obrigação de assumir posições, afinal, as notícias veiculadas na mídia precisam ser refletidas. Tenho dito que não adianta alardear que MS está entre os oito melhores estados do Brasil em qualidade de educação. É mentira! Porque a premissa que baseia esses dados é falsa! Porque aqui ainda se acredita que, prédios, uniformes, tênis, mochilas, livros e materiais didáticos são requisitos indispensáveis para elevar o nível da educação. Educação como prioridade nacional é – investimento maior na área, valorização profissional (quem sabe o mesmo percentual de aumento de salário dos deputados e senadores?) e investimento em educação infantil de qualidade (com quem sabe o que faz).
 Afinal de que serve ser um dos melhores colocados em um país que está sempre entre os piores, ladeira abaixo?! É como correr na São Silvestre e ficar feliz, e soltar foguetes, porque se conseguiu, apenas, percorrer todo o circuito... e daí?!!

Drª Ângela Maria Costa

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