Um Novo Saber

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

A QUESTÃO ECOLÓGICA DA COMUNICAÇÃO

Dra Maria Angela Coelho Mirault

Aparentemente, a complexidade que envolve a problemática da comunicação não é percebida pelo censo comum do cidadão urbano. Liga-se a tevê, o rádio, se aceita o folheto, o semanário, submete-se à ostensiva propaganda publicitária  imposta pelas muralhas de outdoors e toca-se  a vida.
Aparentemente, nos consideramos imunes aos conteúdos, às mensagens que subliminarmente invadem, contaminam nosso cotidiano e afetam nossa saúde.
A complexidade da problemática da comunicação, contudo, não é um problema dos entendidos, dos estudiosos e acadêmicos; é um problema coletivo com implicações ecológicas, que tem início na pessoa, no cidadão, em seus direitos, mas, também, na salvaguarda de sua individualidade.
Por enquanto, somos todos vítimas de um massacre da publicidade caótica de informações midiatizadas. Quem não se confrontou com suas limitações estéticas e econômicas frente a determinados conteúdos publicitários, certas “verdades” informacionais?
O que dizer da publicidade que se dirige à criança como alvo do seu assédio? Abusiva, naturalmente, porque a criança, embora seja altamente convincente ao pedir, e, muitas vezes, em exigir dos adultos, não é consumidora, não tem juízo de valor, de seleção e opção do que pode ou deve consumir.
De certo que vivemos em um mundo hostil que nos exige desfrutar de coisas que não queremos, não devemos, e, na maioria das vezes, não precisamos. Despreparados, quando muito, nos deparamos com a vitimização de nossa integridade mental, nossa capacidade de distinguir e optar pelo que nos convêm em detrimento da passividade do consumismo desenfreado com que nos deixamos capitular.
O conflito diário proporcionado pela falta de discernimento, entre o que podemos e devemos adquirir e o volume do que nos é apresentado do que não podemos e não devemos consumir, vai se processando sutilmente, avolumando-se em nossa psiquê, transformando-nos em hordas de frustrados consumistas, aos quais - como escape - só resta a aquisição do produto similar, do falsificado, ou ao cometimento do araquiri da aquisição, em suaves e intermináveis prestações, de um bem muito além das possibilidades reais de consumo.
Na verdade, a questão do conteúdo da informação veiculada, indiscriminatoriamente, pela mídia de massa, não é uma questão de somenos importância, na atualidade. Trata-se, sim, de uma questão ecológica.
Ernest Haeckel, já em 1870, definiu por ecologia o estudo das inter-relações entre organismos e o seu meio físico. A esta ciência cabe a investigação de toda a relação entre o animal e seu ambiente orgânico. Sabe-se que nenhum organismo, seja ele uma bactéria, um fungo, um verme, uma ave e o próprio homem, pode existir sem interagir com outros e no ambiente físico no qual se encontra inserido. Ao lugar em que se dá essa interação e troca de energias dá-se o nome de ecossistema, ou seja, determinado local onde ocorrem todas as inter-relações dos organismos entre si, com seu meio ambiente.
Somos seres ecológicos e vulneráveis ao ecossistema das cidades. Nosso habitat é o ambiente físico onde ocorrem essas trocas de informações e apropriações de conteúdos simbólicos. Não fomos nem somos preparados para essa percepção ecológica de vulnerabilidade semiótica a que estamos submetidos, às vezes, subsumidos.
Sintomáticos, reconhecemos os efeitos, mas não conhecemos as causas desse mal estar contemporâneo. A depressão, esse mal do século que coloca o indivíduo em conflito consigo mesmo é retroalimentada pela incapacidade palpável de se alcançar os limites dos apelos que a publicidade impõe. Se não se é (e não se pode ser) tão belo, ou magro, ou rico, ou jovem, como fazer para se ter sucesso e poder desfrutar da mágica de “Truman”, que o conteúdo da mensagem publicitária, convincentemente, nos faz acreditar?
Como continuar vivo, depois dos cinqüenta, quando o “mundo da publicidade” afirma só ser possível aos 15, 30, 40 anos?
O que mais nos preocupa é que a capacidade crítica de discernimento entre o que é real e o mundo irreal e fictício simbolizado pela mídia, não é despertada aleatoriamente. O ser humano, organismo vivo submetido a um ecossistema social de interação, vulnerável e afetável, semioticamente, precisa sobreviver e preservar a sua integridade e a de sua espécie, ou seja, persistir em continuar sendo gente, pessoa, apesar de todos os apelos que lhe determinam o contrário. E isso se aprende, se exercita, se reconhece necessário.
Uma educação ecológica para a mídia é uma necessidade que se impõe. Exercer a prática do debate crítico dos conteúdos, proporcionar meios para o desenvolvimento de análises de todas as mensagens mídiáticas: jornalísticas, televisuais, cinamatográficas, publicitárias, na escola e em casa, é uma tarefa emergente nos dias atuais. Por uma simples questão de sobrevivência, integridade ecológica e terapêutica para nossas curas, ensinando-nos a viver, mesmo submetidos ao ambiente caótico de informações, sem que capitulemos, resgatando-nos de nós mesmos, da vergonha que temos de não sermos tão bonitos, ou tão jovens, ou tão ricos como querem nos imputar.
Esse o grande desafio ecológico do ser urbano, nos dias atuais. Com a palavra os educadores, os políticos, os terapeutas.

Um comentário:

  1. PARABÉNS PELO BLOG!
    FELIZ ANO NOVO REPLETO DE PAZ, AMOR, SAÚDE E PROSPERIDADE!
    Sou aluna da Pós em Educação Infantil pela UFMS.
    Abraços!!!!

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